quinta-feira, 28 de abril de 2011

Estação Memória: um projeto que reúne idosos, jovens e memórias

Todas as quartas-feiras à tarde, um grupo reúne-se na Escola de Comunicações e Artes para discutir memórias.
Os participantes, na maioria, têm entre 80 e 90 anos de idade. Trata-se do projeto Estação Memória, coordenado pela professora Ivete Pieruccini, do Departamento de Biblioteconomia e Documentação (CBD). A ideia do projeto é trabalhar o processo de lembrar, de rememorar. Ivete conta que muitos idosos vêm à Estação procurando por exercícios para memorização, mas não se arrependem. “As pessoas raramente conseguem se desligar. Deixam o projeto por razões físicas, de saúde”, diz.



O projeto realiza uma ponte intergeracional. A maioria das reuniões são na USP, com os idosos. Mas há algumas reuniões que promovem encontros entre jovens e idosos. São privilegiados os jovens de Paraisópolis, onde funciona o espaço de pesquisa Estação do Conhecimento.

Ivete conta que os jovens que participam tornam-se mais prestativos e compreensivos com os idosos e melhoram até mesmo sua relação com pessoas idosas da família. Ela conta também casos como o de uma menina que escolheu a carreira de jornalismo com ênfase em cinema por influência das conversas com uma idosa cinéfila que participava do projeto.

Além das reuniões, há saraus realizados na Estação Memória, relacionando poesia e memória.

Um pouco de história

A Estação Memória nasceu de um projeto de pesquisa do professor Edmir Perrotti, também do CBD. Os primeiros esboços do projeto datam do final da década de 1980.

A ideia surgiu de uma conversa com uma senhora de idade que indagou o motivo de algumas pessoas idosas serem divulgadas e outras permanecerem desconhecidas. Ela morava em Pinheiros e argumentou que como ela outras pessoas da região contribuíram para a construção do bairro e não eram ouvidas.

Assim foi criado o projeto Memórias do Baixo Pinheiros, que consistia na coleta de depoimentos de pessoas da região. O objetivo era não somente dar voz a essas pessoas, mas também criar meios de transmissão da experiência de vida de pessoas idosas para crianças e jovens.

No entanto, faltava um espaço físico. E foi quando entrou a professora Ivete. Ela atuava na Rede de Bibliotecas Infanto-juvenis da Cidade de São Paulo e conseguiu que se criasse um espaço em Pinheiros, o que se concretizou em 1997. Até então, o projeto havia se baseado na teoria (estudos, coleta de depoimentos). Passaram a ser realizadas oficinas de memória de duas a três vezes por semana.

Algumas dificuldades

Em 2008, a Secretaria Municipal de Cultura deliberou a desapropriação do espaço e a Estação foi impedida de continuar, sob a alegação de que o ambiente era usado de forma privativa. “O que é uma absoluta inverdade. Eu acho que há uma justificativa social que está acima de nós”, diz Ivete. Quem sustentava a Estação era a própria equipe. “Um ou outro material a prefeitura fornecia, mas nada que onerasse de forma abusiva”, conta Ivete.



Os idosos entraram com recurso na Corregedoria do Idoso, fizeram protestos na rua, mas a Secretaria foi inflexível. “A emoção foi muito grande quando vimos que perdemos o nosso lugar”, conta Mariano Giffoni, participante do projeto, hoje com 92 anos.

Renovação

Apesar das dificuldades, a união dos idosos permitiu a superação. “O que manteve a coesão e a continuidade do grupo foram os vínculos que eles próprios tinham com o projeto”, conta Ivete.

A professora propôs que o projeto fosse trazido para a USP. Algumas pessoas não puderam acompanhar a mudança, devido a dificuldades de locomoção. Outros novos participantes juntaram-se ao grupo, alguns oriundos de outro projeto, o Universidade Aberta à Terceira Idade. Hoje são por volta de 40 inscritos.

Na Universidade, a grande mudança foi o uso de novas tecnologias. Hoje, parte das reuniões debatem temas da Internet. Os idosos têm acesso ao blog do projeto e grande parte faz uso da Internet.
As reuniões ocorrem às quartas-feiras, das 14h às 17h, na sala 257 do Departamento de Biblioteconomia e Documentação (CBD), no Prédio Principal da ECA.

por Maria Carolina Gonçalves

Fonte: http://www3.eca.usp.br/node/1836