terça-feira, 8 de maio de 2012

Oficina de Memória - Cartas sobre a Ditadura



Convite de Abertura à Leitura das Cartas
ESTAÇÃO MEMÓRIA

  
Antônia de Souza Verdini (Toninha)


 São Paulo, 25 de abril de 2012.

Caro amigo (ou amiga)
Lembranças do passado! Quantas afloradas e quantas intencionalmente ou misteriosamente sufocadas, mascaradas, escondidas... E vocês, jovens, a nos pedir nossas memórias... Com que satisfação iniciamos nossa correspondência/diálogo com vocês!
Para ativarmos o que parece escondido no baú das nossas memórias, um bate papo animado num grupo aleatoriamente formado, veio trazendo momentos vividos, frases marcantes, notícias verdadeiras e falsas que alimentaram nosso dia a dia num passado nem tão distante...
Falar em Getúlio Vargas, o conhecido, além de ditador, como o “pai dos pobres”, me trouxe a lembrança do dia de sua morte, em que eu tinha 11 anos, vivendo num internato, e vi as freiras chorando pela grande perda que a nação estava sentindo.
Só muito mais tarde, vivendo num outro período ditatorial a partir do golpe militar de 31 de março, eu já era capaz de ter opiniões sobre os fatos que ocorriam e que eram muitas vezes manipulados pelos detentores do poder e pela imprensa, tanto de direita como de esquerda, que distorciam ou minimizavam os acontecimentos.
Minha relação com militares já era traumática desde a relação com meu pai que também era militar, fazendo parte do que na época se chamava de “guarda-civil. Ele sempre usava uma farda azul-marinho, com seu revólver na cintura e o medo sentido na infância se misturava ao medo da repressão nesse difícil período ditatorial que impedia uma vivência de liberdade.
As canções do Chico Buarque e outros músicos ajudavam a trazer a público o desejo de sentir e dizer, sem ser reprimido. A repressão me trazia os mesmos sentimentos de quando eu tinha que calar a boca, uma ordem bastante comum no meu Colégio.
Trazer essas lembranças à tona e compartilhar com os demais possibilita deixar que um pouco da experiência vivida se mostre com a intensidade que o viver trouxe. E esse diálogo iniciado com vocês, jovens com outras experiências de vida, é muito importante para ambas as partes. É como um encontro entre gerações diferentes, propiciado pela troca de cartas! Isso me deixa muito feliz!

Um abraço a você, Toninha.
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